Portabilidade do crédito – Quem irá se beneficiar? – artigo 02 de 04

Quem irá se beneficiar com a portabilidade de crédito? Esta é uma pergunta que frequentemente nossos clientes nos fazem e nossa resposta segue a linha da redação deste breve artigo, onde propomos que apenas três modalidades de créditos serão beneficiadas. A saber.

Crédito Consignado Tradicional: esta modalidade de crédito já atua fortemente nesta linha e se regula pela menor taxa e maior prazo, já que este binômio permite uma maior alavancagem do crédito para o devedor. Estes clientes estão cada vez mais assediados e esclarecidos, e em alguns estados já desfrutam de sistemas dos órgãos públicos onde trabalham, que só permite contratar este crédito na instituição que cadastrou a menor taxa na manhã do dia que deseja tomar o consignado. Se esta atitude avançar para todo o Brasil, a concorrência pode ser predatória e as instituições bancárias que fornecem o crédito podem ser vistas apenas como financeiras. Um retrocesso que pode vir a custar caro para a sustentabilidade da instituição, mesmos as públicas que tem origens de “funding” populista e o repassam a longos prazos e baixas taxas.

Crédito Imobiliário: em recente artigo apresentamos nossas ponderações sobre esta modalidade de crédito e de sua pouca viabilidade para o Cooperativismo de Crédito. De forma breve, qualquer um de nós, diante de uma dívida de 15 anos de R$ 300.000,00 perderia noites de sono, agravada pelo instituto da Alienação Fiduciária que retoma seu imóvel em menos de 60 dias. Neste artigo comentamos que são raras as chances de um destes clientes não ficarem interessados na portabilidade deste seu enorme compromisso, o qual pode facilmente fazê-lo economizar mais de uma centena de reais por mês.

Lembrando aqui que já há muitos bancos determinando em seus novos contratos imobiliários que a taxa deste crédito será dinâmica e atrelada ao grau de aderência do cliente a instituição, como se vê formalmente na Caixa Econômica. Se fizer a portabilidade apenas da dívida não imobiliária, seu crédito imobiliário subirá assustadoramente, pois perde pontos de aderência. Um advogado de boa retórica poderia muito bem defender a tese que esta taxa seria uma “venda casada”, e protegeria seu cliente quanto à manutenção da taxa reduzida obtida no ato da contratação. Seria como se tivéssemos um crédito com taxa flutuante, nas quais as regras do que seja “reciprocidade” mudarão seja pelo dinamismo do mercado nas quase duas décadas de longevidade da dívida, ou por determinação interna do banco credor.

Crédito de Veículos: é iminente o estresse que viveremos em nossa economia pelo excessivo e longo endividamento de nossa “nova” classe média, após a sua lua-de-mel com o consumo de bens duráveis, como veículos. Assim, visando se defenderem, muito provavelmente estes devedores terão acesso a informações de seus colegas via redes sociais de que podem ter desconto na parcela ao levar sua dívida para um outro banco. Sabidamente estes créditos massificados têm muito mais quantidade do que os praticados no crédito imobiliário, mas veremos que os volumes direcionados por estes créditos massificados para a portabilidade creditícia dificilmente atingirão os patamares originados na portabilidade imobiliária. Ou seja, avançar sobre a portabilidade de crédito do varejo massificado gerará muito serviço e pouco retorno.

Devemos ter ciência que a maior quantidade de créditos ativos de veículos foi originada pela nova classe média remediada que só recentemente teve acesso facilitado a esta linha creditícia. Tende a ser financiamento de veículos mais básicos, os quais têm baixo valor de revenda e liquidez frente à dívida, gerando pouco ganho para o cliente e para o banco que comprar esta dívida. Lembrando que, em época de alta inadimplência, o banco irá conviver com centenas de revisão destas dívidas.

Reflexões finais: devemos sempre observar a máxima que nossa consultoria sempre apregoa. Quanto mais informado for o cliente, em especial os que vêm pela portabilidade creditícia, pior serão seus resultados comerciais e menores valores darão a qualidade de serviço pessoal, algo que é um enorme diferencial do Cooperativismo de Crédito. Não nos esqueçamos: estes clientes que eventualmente venham nos procurar para usufruir das vantagens da portabilidade em uma das três linhas acima nunca nos procuraram, ou não nos viram anteriormente como parceiro. Mas, em um passe de mágica, da noite para o dia, passam a se interessar pelo nosso modelo de negócio buscando de forma egoísta seu ganho e não o de todos. Perda de foco, perda de mercado!

Concordar é secundário. Refletir é urgente.

Obs: a compreensão do tema Portabilidade Creditícia sobre a ótica de nossa Consultoria se dará com a leitura dos três outros artigos já postados: Nossos líderes e suas opiniões; Reflitamos sobre meias verdades e A ótica da Legislação.

Postado em 25/06/2014

Ricardo Coelho Consult – Consultoria e Treinamento Comercial para o Cooperativismo de Crédito