Onde há liderança, há brilhantes seguidores

Quando comecei a trabalhar em banco em meados da década de 70, tinha um simpático e próspero cliente português – Sr. Joaquim – dono de várias padarias. Ele comentava com brilho nos olhos que tinha muito prazer em ensinar todos os segredos de um bom padeiro a seus funcionários de boa índole e com vontade de aprender. Dizia também que não se preocupava se depois eles iriam trabalhar no concorrente ou até mesmo montar sua própria padaria. Ele dizia que quem tem poder no mercado de serviço é aquele que compartilha as informações certas. Eu, como aprendiz e professor universitário, repassei este conceito a meus alunos, orientando-os de que quem ensina aprende dobrado, e que tem “poder” quem dissemina informação. Assim, deveríamos ficar felizes ao lapidar seguidores para que estes se tornem melhores que nós, tal qual fazemos ao educar nossos filhos. Isto é uma missão nobre e de extrema satisfação. Mas o que isto tem a ver com o momento do cooperativismo de crédito?

Ocorre que trabalho intensamente na capacitação comercial destes profissionais e percebo que alguns deles perdem a grande oportunidade de potencializar sua liderança, ao não se empenharem na construção de valores e habilidades em seus seguidores. Ser líder não é ter cargo, mando ou dezenas de funcionários. Ser líder é ter seguidores que espontaneamente lhe aceitem, respeitem sua visão e reconheçam que há em você conteúdos e experiências relevantes para o contexto.

Bônus do líder

Realmente há inúmeros benefícios na liderança, mas o mais gratificante para o líder é perceber no semblante de seus colaboradores a satisfação de participar de sua equipe, de compartilhar conquistas, mesmo que estas o distanciem profissionalmente deste líder. Os bons resultados surgem naturalmente.

Contudo, pela experiência comercial de mais de 30 anos, questiono o futuro dos profissionais que concentram informações acreditando que isto o tornará insubstituível e firme no emprego. Deveriam, desde já, rever suas atitudes, dedicando esforços para orientar seus colegas de trabalho nas habilidades e atitudes necessárias para o sucesso de suas missões. Isto permitirá que a equipe tenha acesso as informações e adote atitudes necessárias para seu crescimento. Assim, como um ciclo virtuoso, a equipe ajudará seu “chefe” na construção de ótimos resultados, na consolidação de sua liderança e na lapidação de discípulos competentes. Estes seguidores certamente perceberão que esta é uma atitude honrosa de seu líder, e que ele merece ser fortalecido por todos. Todos ganham.

Há um ditado popular que diz que um bom pai, com exemplos educa. Assim, buscando ter a máxima coerência entre o que escrevo, falo e pratico, entrego todos os materiais de apoio aos participantes de meus eventos de capacitação comercial, para que façam seu melhor uso. Poderia retê-los, acreditando que isto me tornaria mais forte. Ledo engano. Ao distribuí-los, torno-me ainda mais parceiro na construção destes profissionais. Reforço esta atitude ao compartilhar o que sei, através do envio de textos com reflexões sobre o cooperativismo de crédito, publicando-os em meu site. A liderança é a consequência saudável de quem foca a construção de fortes laços de relacionamentos, pois se baseia, na habilidade em trocar percepções, na humildade de aprender com o contraponto e no respeito do contraditório.

Na prática

Eventualmente encontro em alguma singular, alguém que se rotule indispensável ou insubstituível por ser (ou se achar) o melhor (ou mais velho) especialista em um assunto ou mesmo ser o titular de uma grande agência, gerente geral etc. Algo extremamente equivocado. Alerto: Os profissionais da singular devem manter uma relação saudável com seu atual empregador, buscando ser capaz e íntegro neste relacionamento, mas sabendo que ele é temporário, pois como oriento: Todo relacionamento comercial é uma paga justa, por um tempo justo. Assim sendo, é mandatório que se qualifique com foco nas habilidades desejadas por seu atual empregador, mas também pelo mercado.

Resumidamente. É saudável gerir a força humana de uma singular de tal sorte que no eventual desligamento, promoção, doença ou férias de um funcionário qualquer (ou mesmo executivo), não haja um sério descompasso no cotidiano, na robustez e na confiança do mercado quanto à pujança da singular. Caso exista esta realidade em sua Singular, deveriam rever ordenadamente as prerrogativas de gestão e operacional, pois não é razoável que ela dependa fortemente da “eficácia” técnica, comercial ou política de um ou de alguns poucos homens.

Uma astuta solução

Apregoo em minhas consultorias que o cliente deve adotar um procedimento simples e prático para validar se seus gestores técnicos e comerciais estão desenvolvendo suas lideranças e as habilidades de suas equipes. Assim sendo, aconselho que acordem com estes profissionais de que, a cada seis meses irão se reunir para que lhes apresentem as atitudes de liderança que desenvolveram e como anda seus esforços na orientação e capacitação de seus funcionários (os quais serão ouvidos na sequência para confirmar este relato). Isto, por si só já seria uma oportuna ação de acompanhamento.

Contudo, aqui reside o “pulo do gato” desta estratégia. Ficará acordado com estes gestores, que em um dia qualquer, ele será informado que ficará alguns dias “descansando”, desconectado e incomunicável com sua agência/setor. Seu segundo homem na hierarquia automaticamente assumirá o setor/agência, e será avaliado quanto ao seu desempenho, seu nível de acesso as informações estratégicas e da utilização de preceitos básicos de liderança para a condução interina do setor/agência.

Ou seja, a avaliação semestral deste titular/líder/gestor, será 40% (ex) pela sua eficácia em criar brilhantes seguidores, e não somente por atingir metas comerciais tradicionais. Haja vista que estas metas podem conter vícios básicos na sua definição, que as deixam incoerentes como balizadoras da eficácia comercial de um profissional de vendas. Premiando indevidamente um, desmotivando dezenas, além de minar a riqueza da base de clientes e tirar o foco do óbvio.

Chefe ou líder?

Portanto, se o profissional não for eficaz na lapidação de seu segundo, ele não merece esta gestão, cargo, salário ou mesmo ser promovido, pois não tem a liderança necessária para este desafio. Caso seja promovido, rapidamente veremos os estragos. Para clarificar, lembro do Princípio de Peters que nos ensina “Em uma área de gestão, devemos cuidar para que um técnico não seja promovido até seu grau de incapacidade”. Assim, os executivos da singular devem buscar primeiramente harmonia entre pessoas e estas com seu líder atual/local. A capacitação técnica por si só não dá ao profissional a desejada liderança. Sem ela temos um queijo suíço: casca forte e grandes buracos escondidos.

Cuidemos para que promovamos apenas pessoas comprometidas, oxigenadas, que busquem novos conhecimentos, inclusive em outras áreas e que, principalmente tenham paixão por liderar e entusiasmar equipes. Suas habilidades técnicas são apenas um importante detalhe. Se ele é um bom líder, mas não domina todos os detalhes técnicos para a função, pode facilmente contar com profissionais especialistas em sua equipe que lhes dê a consistência da árvore (base técnica). Assim, continua focado em enxergar toda a floresta para conduzi-los ao sucesso.

Ele, o líder, precisa ter uma visão ampla da floresta. Quanto mais você cresce na empresa, menos especialista deve ser. Será exigido de você uma forte visão holística, oxigenada, focada em tendência e muita claridade na leitura e antecipação de cenários. E é claro, que seja um profissional aglutinador, que transmita liderança, e que seja humilde ao desejar aprender sempre, inclusive com seus concorrentes, pares e subordinados.

Conclusão
Nossos profissionais devem aproveitar as centenas de oportunidades existentes junto ao seu atual empregador e até mesmo no mercado. Contudo, para este sucesso ocorrer, devem focar resultados saudáveis, além de serem líderes eficazes, preparados para mudanças, entusiastas, humildes e principalmente terem habilidades em compartilhar conhecimento. Passam então, a lapidar seu mais caro diamante profissional – sua equipe, tal qual fazia com maestria o simpático padeiro-guru – Sr. Joaquim.

Com o que temos (pessoal, sistema, base de clientes, mercado,…) devemos entregar resultados relevantes e harmoniosos para a perpetuação de nossa singular.

Fiquemos com o oportuno ensinamento da poetisa Cora Coralina: Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Concordar é secundário. Refletir é urgente.

Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento com Foco no Cooperativismo de Crédito

www.ricardocoelhoconsult.com.br – 41-3569-0466 – Postado em 29/07/2009