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O binômio desafiador das Singulares frente à crise

Binômio, em tese, é o resultado do pensamento de um profundo conhecedor do tema, onde consegue explicitar como deveríamos distinguir dois cenários que aparentemente não teriam correlação ou estavam sobrepostos, clareando o conhecimento e a análise do cenário. Fazendo uso desta prerrogativa binomial, e diante desta indiscutível crise socioeconômica, identifico dois grandes e complementares binômios que, por se avolumarem, requerem urgente atenção dos executivos de sua Singular:

1º Binômio – Excesso de Captação: diante deste cenário de agravamento das incertezas comercias, observa-se que há mais de um ano os detentores de capital adotam paulatinamente medidas austeras para ficarem líquidos. Assim, esperam novamente voltar ao mercado saudável dentro de alguns anos, quando os preços recuarem para patamares racionalmente atrativos.

É natural que estes líquidos investidores tenham real interesse em comprar riquezas para que estas gerem produção ou renda bem acima do que ganham em suas aplicações financeiras. Portanto, seus clientes com perfis investidores naturalmente elevam suas posições em depósito a prazo, fazendo com que estas metas sejam facilmente alcançadas antes do período acordado. Vê-se também a elevação das concentrações nas aplicações, pois cada um dos bons investidores elege seu banco de maior “afinidade” para alavancar suas posições.

Este movimento deságua na necessidade de emprestar mais dinheiro, dando fluidez a teoria comercial das melancias já explicitada em um de nossos recentes artigos. Só devemos comprar estoques de melancias se sabemos que iremos vendê-las de forma rápida e a um bom preço. Então, se estamos comprando mais melancias que o usual, temos que vendê-las de forma rápida, pulverizada e cara quanto à precificação do ganho e risco. Caso contrário, o custo de estocá-las cada vez mais será um risco estratégico e um descompasso comercial. Aqui mora um perigo. Qual estratégia adotar para que esta elevada captação espontânea não venha a comprometer a lógica comercial? Seria inglório pedir para que o cliente investidor não nos traga mais recursos! Este binômio merece uma imersão urgente dos executivos de sua Singular.

2º Binômio – Redução do Crédito: vê-se uma elevação da inadimplência real e potencial, a qual nem sempre é assim percebida pelos executivos, pois uma boa parte da inadimplência potencial está na frágil estrutura e cultura de cobrança, e a outra parte é oriunda de créditos de vencimento únicos, como o rotativo no cartão, o cheque especial, devedoras de empresas, etc. São crédito com limites ainda não totalmente tomados e que têm um perfil de vencimento perigosíssimo, como escrito no recente artigo “Crédito de vencimento único potencializa perdas únicas”. E isto pode ser agravado pela má gestão do tempo dos profissionais comercias; pela pouca eficácia nas visitas comerciais, pelo avanço exagerado em praças desconhecidas, pelas frágeis ações de cobrança, pelas metas e meritocracia mal elaboradas etc.

E indubitável que já se vê a elevação da inadimplência e das provisões, e como elas chegam a volumes nunca vistos, aciona-se as mais estranhas teses para se entender e poder explicar o que ocorre. Ainda, por pouco tempo, a inadimplência e as provisões terão grande parte do seu real potencial ocultado pelas linhas de vencimento único, como visto acima, ou pelo resultado comercial advindo de linhas de altíssimo spread, os quais muito provavelmente tiveram suas taxas majoradas pela sua Singular nos últimos seis meses, sobre a alegação da elevação do custo, inadimplência, provisão, Selic… . Essa, entretanto, mas muito provavelmente foi uma opção para reverter à real queda dos resultados. Muito em breve esta maré alta chegará a seu pico e no seu recuar lento veremos os lixos e curiosidades que ela trouxe sobre as espumas criadas pelo agitar das águas. Veremos que um destes descompassos é a desatenção com o crédito de varejo massificado, em especial quanto à estruturação de uma qualificada base de clientes tomadores com rendas advindas de segmentos tradicionalmente mais resistentes a longas crises.

A realidade ainda mascarada: diante da crise, os tradicionais bancos de varejo recuaram gerando novas e graduais dificuldades para o crédito de varejo, seja ele de consumo, investimento ou giro para pequenas e microempresas. E a isto se soma o fato de que estes clientes irão migrar para entidades que ainda mantenham facilidades na concessão do crédito, entre as quais estão algumas Singulares que mantêm ainda políticas de crédito praticadas no tempo de bonança, sem restringir créditos, seja por risco ou aderência.

Reflexão final: diante da crise que se agiganta, é prudente lembrar que tal qual a compra e venda de melancias não é para feirantes iniciantes, também demanda maturidade e astúcia a compra e venda de dinheiro nas Singulares.

A observação e a conexão de fatos discretos, mesmo que de aparência irrelevante, devem ser conduzidos pelos seniores da Singular para que o oculto possa vir à tona de forma breve e cristalina. Evitando assim perceber, após a feira ter acabado, que a banca ainda está repleta de melancias.

Concordar é secundário. Refletir é urgente.

Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento com Foco no Cooperativismo de Crédito
www.ricardocoelhoconsult.com.br – 41-3569-0466 – Postado em 28/09/2015