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Quem ganhará essa Guerra de Titãs: Reservas X Sobras X Capital Social

Na mitologia grega, os Titãs estão entre a série de deuses que enfrentaram Zeus e os deuses do Olimpo na sua ascensão ao poder. Por vezes os deuses maiores são derrotados. Em outras, os rebeldes perdem e são afastados totalmente do poder ou ainda incorporados ao Panteão – deuses de uma determinada região. O que tem a ver os deuses Titãs com Reservas, Sobras e Capital Social?

Vamos analisar juntos a correlação de força entre estes três importantes atores de nosso modelo de negócio, pois como gestores da eficácia de nossa engenharia comercial devemos fazer resultados através de uma coerente alavancagem de negócios. Mas, como fazer isto se há interesses tão díspares nas engrenagens de nosso funcionamento (gestores, sócios, clientes etc.). Vejamos apenas três deles:

1º – Sustentabilidade da Singular: como executivos temos de permitir que a máquina flua com sustentabilidade comercial e, para tanto, não podemos priorizar o interesse individual do sócio. De forma macro, devemos buscar gerir o máximo de recurso a um menor custo (reserva, capital social, depósito à vista, depósito a prazo…) e prestar serviços a um preço comercialmente interessante, nunca barato, passando a ideia que pelo custo pago, o atendimento e os ganhos estão acima do mercado.

2º – Sócios com elevadas posições de Capital Social: eles podem estar desanimados com este seu investimento, como já explicitado no artigo “Capital Social e sua não correlação com as Sobras”, onde mencionamos que não há correlação entre capital social e sobras recebidas. Assim sendo, muitos destes clientes já se sentem desconfortáveis com a incoerência deste seu investimento aportado na Singular, em especial se a Singular não o remunerar ou se o fizer em percentuais abaixo da Selic.

3º – Usuários da Singular: uma boa parcela do “lucro” da Singular será distribuída como Sobras aqueles que usaram suas soluções. Portanto, este tema só é relevante para o cliente, se a ele couber uma parcela “gorda” deste rateio. Em artigos apresentamos as várias distorções deste rateio, e após a LC 130-2009 ainda não fomos capazes de transformar as Sobras distribuídas em algo “sexy”.

Os interesses antagônicos dos três deuses Titãs: Reserva X Capital Social X Sobras

Se a Singular seguir a coerência comercial remunerando seu capital social, lançará esta despesa de captações em 31/12, dando uma punhalada no grande deus Sobras. Sim, pois, a remuneração do capital social é uma despesa financeira e reduz as Sobras brutas na AGO.

Atenção: podemos até apresentar este custo na AGO como integrante das Sobras do ano anterior, mas será apenas uma jogada comercial, já que é devida a remuneração aos sócios investidores. Também é um equívoco somar este custo no “atingimento” de metas e PPR, pois ele é despesa e não compõe o resultado.

Mas o deus Reserva também pretende dar uma punhalada no deus Sobra Bruta quando da AGO, e fará de tudo para obter para si o máximo de recursos. Como gestores, sabemos que a Reserva é uma rica fonte de oxigênio para nossa Singular, em especial para as novas e para aquelas que desejam alavancar sua carteira de crédito e fazer frente à agressividade de seu mercado. É nossa missão gerir esta complexa fonte de recursos, já que a instituição precisa de alicerces e ações de longo prazo e os sócios/clientes são imediatistas e têm dificuldades em abrir mão de ganhos para aportar em Reservas.

Mas qual seria o percentual das Sobras Brutas a se direcionar para as Reservas? Depende do momento da Singular, mas é sensato elevar gradualmente a percentuais entre 30% e 50%. Caso elevemos os percentuais acima disso, agredimos os diferencias comerciais já debilitados das Sobras, tornando-os insignificantes. Contudo, não se tem mostrado saudável a adoção constante de percentuais próximo aos 10% do mínimo legal. Assim, de forma macro temos que pensar nas Reservas como:

  1. Captações a custo zero e fonte de lucros já no próximo período, pois mesmo que não tenhamos tomadores para elas, serão remuneradas pela sua concentração financeira;
  2. Uma fonte sobre a qual a Singular não deve satisfação individual a nenhum sócio;
  3. Uma alavanca de concessão de crédito e um ótimo balizador para alavancar longos créditos;
  4. Um pilar que dá segurança aos líderes e favorece os preceitos da boa Governança etc.

Mas o deus Sobras Distribuídas fará de tudo para se esquivar das punhaladas do deus Reserva e do deus Remuneração de Capital Social. Irá alegar que sem valores expressivos não terá como se manter no panteão dos deuses deste time e que seus discípulos irão buscar outros deuses, pois o diferencial vendido e entregue como um grande chafariz de vinho passará a ser um minguado filete de vinagre, que pouco soma racionalmente.

Que tenhamos sabedoria para gerir esta guerra de vaidades destes nossos três Deuses Titãs.

Concordar é secundário. Refletir é urgente.

Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento com Foco no Cooperativismo de Crédito

www.ricardocoelhoconsult.com.br – 41-3569-0466 – Postado em 12/02/2012