O Brasil parou. Reveja sua estratégia

O problema é de confiança. Anos sofríveis de PIBs negativos, seguidos de um discreto crescimento no ano passado inflado por anos de recessão e por ações populistas, como a liberação do FGTS. A isso se soma uma baixa SELIC e uma comportada inflação, as quais não traduzem a sofrível realidade da economia. No mercado externo o dólar se valoriza, o petróleo se eleva, crises e guerras se avolumam… . Internamente vivemos um cenário de política depauperada, governo endividado e perdulário, estados quebrados, desemprego elevado, uma Copa do Mundo sem brilho, a aproximação de eleições majoritárias sem uma racionalidade saudável para tanto, entre outras tantas mazelas que não podem ser mitigadas, a não ser por uma enorme mudança de consciência e atitude de todos nós. Algo que ainda não estamos convencidos que irá acontecer na grandeza e na rapidez necessária.

Vimos agora uma gravíssima greve dos caminhoneiros sendo deflagrada, construída de forma complexa e difusa, sem que houvesse um notório apelo político, e, pela falta de clara liderança, serão imprevisíveis seus efeitos e limites. Independente de apoiarmos ou não a solução dada pelo governo a essa greve, certamente ela é cara e paliativa, já que o tema central não foi resolvido. Trata-se apenas de mais uma grande bomba a ser colocada no colo do próximo presidente, que esperamos seja um ser iluminado, nem muito a esquerda nem muito a direita.

Não é falta de otimismo. Diante desse sério cenário que se desenha, não devemos ser como Poliana, retratada em 1913 no livro de Eleanor H. Porter, que em tudo encontrava coisas boas.  Preferimos pensar que Confúcio estava mais atento ao ser humano, quando disse em 500 a.C. que “o pessimismo torna os homens cautelosos, enquanto o otimismo os tornam imprudentes”. Mas, por outro lado, com falta de confiança/otimismo os empresários e empreendedores se retraem, travando a pujança.

Cautela. É disso que tratamos nesse artigo. Por mais indigesto e árduo que venha a ser esse segundo semestre de 2018, certamente é equivocado seguirmos o otimismo naturalmente contido em nosso atual planejamento estratégico. A nossa caminhada já foi afetada pela penúria que se instalou, e precisamos antever as consequências dessa realidade, para que nossas ações foquem em nos manter competitivos nesse novo cenário, que tende a se agravar e se prorrogar por mais tempo do que desejaríamos.

Em janeiro desse ano postamos o artigo “2018 a 2022 – Será um voo de galinha?”, onde pedíamos cautela em nossos planejamentos. Elencamos nele realidades que tendiam/tendem a minar nosso excessivo entusiasmo. Esse artigo naturalmente recebeu críticas ao contrariar alguns otimistas e somos gratos a todas essas ponderações, pois: “Concordar é secundário. Refletir é urgente”.

Comitê de Gestão de Crise: Com esses novos acontecimentos nacionais e internacionais parece-nos que é hora de cada uma de nossas Singulares (e suas entidades) criarem uma estrutura próxima do que se conhece como Comitê de Gestão de Crise, visando instituir um plano de ação efetivo para mitigar os percalços desse desafiador cenário. Esses Comitês são formalmente previstos nos manuais de grandes empresas e governos, e aplicados com muita eficácia quando acionados, dando mais fluidez ao estressante cotidiano que se desenhou.

Com a adoção desse Comitê, naturalmente o planejamento estratégico é suspenso e realinhado em pleno voo a nova realidade apresentada. Ele poderia se pautar por:

Certamente haveria outros temas, mas essas são linhas mestras a serem ponderadas quando da edificação de um prático e ágil grupo de trabalho que se assemelhe a um Comitê de Gestão de Crise. A implementação de uma estrutura similar a essa pode ser algo pesado conceitualmente, mas não tê-la frente à crise que se instala pode ser um risco desnecessário.

Saída da Crise: Acreditamos que esse cenário de crise irá se alongar pelos próximos anos e afetará a todos, e precisamos ficar atentos para que não sejamos levados a considerar que a crise já passou após vivermos alguns poucos anos de bons PIBs, seguidos de uma melhoria do quadro fiscal, político e social. Precisamos ter ciência de que há um enorme dispêndio de energia da nação para cessar os efeitos dessa complexa crise e somente depois dessa árdua e longa tarefa da sociedade, é que gradualmente voltaremos a ter crescimento sustentado. Esse cenário será potencializado na direta proporção do dinamismo da riqueza global.

Reflexão final: Seguindo Confúcio, é prudente que nossos líderes sejam cautelosos, mantendo seu otimismo para o usarem no futuro, quando assim entenderem os interlocutores do Sr. Mercado.

O Brasil parou. Reveja sua estratégia.

Concordar é secundário. Refletir é urgente.

Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento com Foco no Cooperativismo de Crédito
www.ricardocoelhoconsult.com.br – 41-3569-0466 – Postado em 29/05/2018