Mitigando as concentrações de riquezas no Depósito a Prazo
Ontem, conversando com um colega que fechou recentemente sua empresa alegando um fato recorrente, percebi que a rotina tende a formar areias movediças em uma bela praia chamada mercado. São cenários tidos como seguros pelos empresários menos atentos, já que os macro números sinalizam pujança. Esquecem que empreender exige uma gestão diária de grandes inimigos ocultos, como aqueles decorrentes da concentração. Sim, ao concentrar, seja em fornecedores, compradores ou mercados, amplia-se a dependência em poucos agentes econômicos, e, assim, não se tem uma rota de fuga eficaz durante os naturais movimentos cíclicos de estresse do mercado.
Vê-se que, guardadas as devidas proporções, nós, cooperativistas de crédito, podemos não estar atentos para a concentração em nosso modelo de negócio, especialmente em relação às fontes de riquezas que fomentam nosso Depósito a Prazo. Isso potencializa situações comercialmente nada coerentes, pois apesar de obtermos grandes saldos definidos pelas metas, não é comum monitorarmos a existência nesse saldo de concentrações em algumas origens de riquezas.
Agravando as Concentrações: Imagine que, em 2018, atingiremos as metas quanto ao crescimento do Depósito a Prazo em nossa Singular ou Agência, culminando em prêmios e aplausos aos envolvidos. Mas você, como líder e um defensor dos preceitos da governança, observa que houve uma concentração ainda maior em fontes de riquezas para gerar aplicações no Depósito a Prazo, conforme fica explícito no gráfico abaixo. Após essa análise, você irá pedir que doravante seu quadro comercial seja mais cuidadoso e, sempre que possível, evite fomentar essas concentrações.
Mitigando essas Concentrações: O gráfico didaticamente propõe 10 (dez) rótulos a grupos de afinidades, quanto às origens das riquezas de nossos investidores, visando monitorar nossa dependência de uma ou mais dessas fontes de riquezas.
É natural que uma dessas fontes passe ciclicamente por épocas difíceis, portanto, devemos edificar outras fontes geradoras de renda para fomentar de forma segura nosso Depósito a Prazo, cuidando que essas fontes tenham pouca interdependência. Assim, se uma Singular perseguir apenas a elevação de seu saldo em Depósito a Prazo, sem buscar uma maior diversificação das fontes de riquezas que podem fomentar essa solução, é provável que ela seja “inesperadamente” afetada pela queda nesse saldo, sem que possa agir de forma prudencial.
Portanto, o Conselho de Administração deve ter ciência que apenas o saldo crescente em Depósito a Prazo (ex.) não permite uma clara leitura da fortaleza da estrutura da entidade, como também deve exigir que sejam apresentadas posições consolidadas que demonstrem as eventuais concentrações nas fontes de riquezas (e suas reduções históricas), conforme aqui proposto.
Reflexões Finais: Encontre uma maneira sistêmica simples e cíclica de agrupar a totalidade de seus clientes em macro grupos quanto à origem de suas riquezas, verificando se não haverá necessidade de particularizar a realidade de cada micromercado onde concorre. Isso permitirá avanços relevantes em sua gestão frente a Singular, com destaque à composição, concentração e movimentação dos saldos do Depósito a Prazo. Também, irá coibir um eventual otimismo pela simples evolução desses saldos, bem como irá gerar um repensar quanto à estruturação das metas e suas premiações.
A perfeita Governança pressupõe ações como as que evitam as areias movediças oriundas da concentração em poucos nichos geradores de riqueza.
Concordar é secundário. Refletir é urgente.
Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento com Foco no Cooperativismo de Crédito
www.ricardocoelhoconsult.com.br – 41-3569-0466 – Postado em 02/10/2018